quarta-feira, 17 de junho de 2015

beta

lembra do grunhido no final de karma police? é quando você foi embora. e a próxima faixa é no surprises. mas não tem problema, já se passaram tantos anos. o céu nem é da mesma cor, nem o meu cabelo, nem as paredes. já se passaram tantos anos. e não dividimos a mesma cama, ou a mesma cena. só o mesmo choro. nunca mais ouvi seu choro. sigo meus pés, confusos, que ultimamente andam numa circunferência tão triste em volta de mim mesma. sabe? de passar noites indo e voltando para o mesmo ponto. que às vezes é você. não de forma a querer dirigir até sua porta e meio que recitar aquela letra do odair josé. não. de revisar toda a minha vida porque ela começou com você, e talvez acabe também. hoje não dormi, amanheceu e o sol na minha cara interrompeu um pensamento miserável. que era o seguinte: durante a história, você sabe, a história com h maiúsculo, enésimas vezes pares de pés passaram pelo mesmo constrangimento psicológico que o meu. esse, de não sair do lugar. depois consertaram o infortúnio com uma invenção excepcional. o relógio, o telescópio, o vapt vupt. pois é, ainda não mirabolei nenhuma recompensa por estar presa nesse intervalo recreativo que não muda. quiçá eu invente finalmente a máquina do tempo e possa voltar para te contar todas as coisas que descobri depois que nunca mais te vi: saturno jamais vai tocar plutão, eu ainda amo seus óculos quadrados e ok computer não é o melhor álbum do radiohead.

yasmin

estratosfera surda

certa vez vi um filme que falava sobre o barulho urbano se aglomerando numa sintonia estranha
que parece música
depois li um livro que citava uma determinada música
não me lembro o nome
e essa música era puro silêncio
não sei, uns 9 minutos de silêncio, onde você encaixava os sons do seu redor
o assovio pro táxi
o escarro
o metrô saindo
a água explodindo o hidrante
a sirene
o trânsito
o choro
a cigarra
os passos
o tiro
o brinde
o tombo na escada
a sacola no vento
o vento
juntos numa nota, ou várias
não entendo nada de arranjos, mas esses caras entenderam
todos os ruídos desconexos da rua são, por determinação de alguém, uma maldita música
que toca sem pausa
e a minha cabeça é uma desgraça
um túnel de lata
não faz um instante de silêncio
eu nem sequer sei mais distinguir a minha voz do seu grito, o seu gemido da tv, a manifestação do tiroteio
deve ser realmente como disseram, a gente é só sonoridade
uma porcaria sonora se aglomerando numa sintonia estranha
que parece música
mas não é

yasmin